• admin
  • Uncategorized
  • No Comments

Ver além da Pegada de Carbono

A redução da pegada de carbono passou a ser integrada na estratégia de um grande número de empresas de forma a envolverem-se no cumprimento das metas mundiais para a neutralidade. Ao estabelecerem metas, juntamente com fortes compromissos e ações concretas para descarbonizarem a sua atividade, estas empresas estão também a redesenhar os seus modelos de negócio, as cadeias de valor e estão a contribuir significativamente para um futuro com zero emissões.

Apesar da redução da pegada de carbono ser um passo importante no sentido de atuar sobre alguns impactos ambientais e sobre as alterações climáticas, esta poderá estar a criar outro problema? O denominado “carbon tunnel vision”, conceito criado por Jan Konietzko, poderá estar a criar uma visão limitada dos impactos ambientais e sociais, negligenciando tópicos como os direitos humanos, a perda de biodiversidade, a desertificação dos solos, a toxicidade, entre outros.

Embora, finalmente, se tenha alcançado consciência e um consenso para uma atuação consistente sobre as emissões de GEE, e em última instância, alcançar a neutralidade, a sustentabilidade é bem mais abrangente e exige uma abordagem sistémica que interconecte respostas a diversas problemáticas correntes. Se alcançarmos zero emissões GEE numa organização, mas esta ignorar o bem-estar dos colaboradores, a sua saúde e segurança no trabalho, os direitos humanos na cadeia de abastecimento, a ética na governação ou as práticas anticorrupção, será que pode ser vista como sustentável?

Na altura de tomar medidas, é necessário abordar os impactos de uma empresa na economia, no ambiente e nas pessoas de forma holística e abrangente. As evidencias e os dados são fundamentais para as ações que devem ser tomadas, para assim podermos caminhar para um futuro inclusivo e sustentável para todos.

É de notar que as atividades ou empresas não devem olhar todas para o mesmo problema ou impacto, pois dependendo das suas atividades provocam impactos diferentes quer a nível económico, social ou ambiental.

Neste sentido, é importante fazer uma análise de materialidade como ponto de partida para a definição de uma estratégia de sustentabilidade. Assim, as empresas terão maior perceção dos impactos que a sua atividade tem em termos ambientais, sociais e económicos e conseguem priorizar as áreas da sua atuação, vendo além do carbono, e focando-se assim no que de facto é significativo na sua atividade.

Frequentemente, utiliza-se o Life Cycle Assessment (LCA) para quantificar a pegada de carbono. No entanto, esta é uma ferramenta abrangente que permite avaliar diferentes impactos ambientais, e não só o indicador associado ao impacto do aquecimento global (pegada de carbono): a utilização de água, eutrofização dos recursos hídricos, toxicidade humana, acidificação, etc.

Já no campo do desempenho social, cada vez mais surgem ferramentas para ajudar as empresas a medirem os seus impactos. Por exemplo, o Social Life Cycle Assessment (S-LCA) integra direitos humanos, condições laborais, saúde e segurança no trabalho, desenvolvimento socioeconómico, entre outros. Por si só, o S-LCA pode não ser suficiente para determinar a sustentabilidade de um dado produto ou organização, mas em conjunto com o LCA (desempenho ambiental) ou até o Life Cycle Costing (desempenho económico) pode ser determinante para tomada de decisões.

A sustentabilidade é um termo muito amplo e que não parece ter um teto e, por isso, pode tornar-se muito desafiante. A mensagem a reter é que o foco num único parâmetro pode ser prejudicial para a estratégia e reputação da organização. A sustentabilidade de uma organização ou produto deve ser vista como um todo e a sua estratégia deve ser direcionada para os principais impactos que desta advêm.

Em oposição à visão pontual do pensamento causa-efeito, o pensamento sistémico compreende as interdependências das variáveis, como estas influenciam e são influenciadas pelas outras. Este tipo de pensamento é um motor para combater o “carbon tunnel vision” e alargar a perceção das ações a tomar para o desenvolvimento sustentável.

O pior cego é aquele que não quer ver, ou neste caso, cego é aquele que só quer ver uma parte.

 

 

Fontes:

WBCSD, Freuds (2021), “The Climate Confidence Barometer”.

Jensen, (2021), “Avoiding carbon tunnel vision: action on climate change needs na inter-connected response”.

KPMG (2020), “The time has come”.

Konietzko (2022), Moving beyond carbon tunnel vision with a sustainability data strategy”.

https://digitally.cognizant.com/moving-beyond-carbon-tunnel-vision-with-a-sustainability-data-strategy-codex7121

Author: admin

Leave a Reply