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Pilar ambiental e social: dicotomia ou indissociabilidade?

As empresas têm optado por se posicionar, cada vez mais, como socialmente responsáveis ou ambientalmente sustentáveis, no entanto, será que estas duas esferas são independentes?

Os objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) parecem indicar-nos que existe uma ligação entre estes dois pilares, uma vez que incluem metas que relacionam o que é do domínio do social com o que é do domínio do ambiental. Também o modelo da Economia do Donut realça esta relação referindo a necessidade de operamos de modo a que consigamos responder às necessidades básicas da humanidade (como a fome, educação, habitação, igualdade de género, entre muitos outros) respeitando, paralelamente, os limites ecológicos planetários (referentes à perda de biodiversidade, poluição do ar, acidificação dos oceanos, alterações climáticas, entre outros).

A interligação entre os pilares ambiental e social é cada vez mais evidente.  As interligações económico-social e económica-ambiental são já bastante estudadas e conhecidas, pretende-se agora aprofundar a investigação acerca da relação entre os pilares social e ambiental. Há evidencias que as políticas ambientais possam ter um impacto positivo nas questões sociais, em particular em temas ligados à coesão e à inclusão, e vice-versa. Por exemplo, estima-se que a aposta na economia circular e nas energias renováveis apresentará grandes benefícios ambientais, mas também sociais, através da criação de emprego, acesso a melhores condições de trabalho e satisfação dos trabalhadores.

Por outro lado, certos problemas ambientais têm salientado questões de injustiça social, dado que a degradação ambiental tende a afetar, com maior incidência, os grupos mais vulneráveis ​​da sociedade. Um exemplo desta realidade remete para a exposição a riscos acrescidos para a saúde pelas comunidades mais pobres, mulheres, imigrantes e negros, que se sujeitam a trabalhos precários e sem condições de segurança ou que vivem em comunidades perto de grandes polos industriais, centrais de produção elétrica e de gestão de resíduos que poluem o ar, o abastecimento de água local, entre outros problemas associados. Tal acontece com os habitantes da Carolina do Norte que vivem perto de suinoculturas, que são principalmente negros, nativos americanos e latinos. Foi registada uma maior taxa de mortalidade (associada a diversos problemas de saúde) neste grupo do que nos restantes residentes do estado. Por outro lado, os trabalhadores envolvidos na produção do plástico estão mais expostos ao desenvolvimento de doenças uma vez que são mais de 170 os químicos utilizados neste processo que interferem com a saúde humana, podendo causar cancro, doenças cardíacas ou problemas neurológicos além de mexer com o sistema endócrino, influenciando a reprodução.  Também o recurso a agroquímicos para a produção agrícola parece ter uma relação com o aparecimento de doenças como o cancro ou malformações congénitas entre os trabalhadores e suas famílias.

Além disso, os efeitos das alterações climáticas, como catástrofes naturais e poluição tendem a afetar desproporcionalmente estas comunidades, com destaque para as comunidades indígenas, que têm sido fortemente afetadas. Todos os anos, dos desastres naturais, resultam mais de 60 000 mortes, principalmente em países em desenvolvimento. Em 2019, 34 milhões de pessoas não tiveram acesso a alimentos saudáveis nem em quantidade suficiente devido às alterações climáticas, o que representa um aumento de 17% em relação ao ano anterior. Os afetados são essencialmente pessoas em situação de pobreza, povos indígenas e pequenos proprietários de terras extremamente dependentes da agricultura e pesca como fonte de subsistência.

A incapacidade de compreender que estes dois pilares estão interligados, têm atrasado a conquista do desenvolvimento sustentável. A construção de um ecossistema robusto está depende da criação de comunidades resilientes, empregos justos, padrões de produção e consumo sustentáveis e da manutenção de um clima estável, que sustente as necessidades básicas das famílias e comunidades, como o acesso a água e a alimentos. Deste modo, podemos concluir que o pilar ambiental é o alicerce essencial que providência a existência da sociedade e que a boa relação entre estes dois pilares sustenta a vida na Terra e possibilita uma maior qualidade de vida para todos.

Por fim, podemos concluir que os objetivos sociais e ambientais, não só são compatíveis, como são sinérgicos, e exprimem a importância de abordar estes problemas forma holística.

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