Falar de Sustentabilidade em vez de alterações climáticas

Nas abordagens que fazemos a empresas mas também no nosso círculo pessoal abordamos sempre a sustentabilidade sem referir as alterações climáticas. Porquê?

Porque acreditamos que para inspirarmos e contagiarmos os outros a promoverem a mudança necessária, os efeitos das suas ações devem ser tangíveis. Por exemplo, é difícil convencer alguém que se investir em energia solar vai contribuir para que a temperatura média do planeta não suba mais do que 2ºC. Explicar o ciclo do carbono e dos demais gases de efeitos estufa não é linear. Mas é facilmente percetível que se fizer o investimento em energia solar, em vez de queimar combustíveis fosseis vai estar a usar energia renovável. Apesar do ser humano ser considerado o ser mais inteligente à face da Terra, a sua eco-inteligência não consegue enxergar os efeitos indiretos das suas ações. Por isso, consideramos que é sempre preferível falar na preservação da biodiversidade e no combate à poluição, desertificação e desflorestação do que no combate às alterações climáticas. Qualquer um percebe as consequências positivas para o ambiente de reduzir o consumo de água ou a quantidade de resíduos produzidos.

Também não falamos de alterações climáticas porque acreditamos que apenas com uma mensagem positiva e de esperança conseguimos a adesão das pessoas e das organizações. E é isso mesmo que queremos. Não queremos ganhar a guerra da razão, mas sim mobilizar. Conseguimos adesão se demonstrarmos que é possível desenhar estratégias de sustentabilidade que levam a ações concretas com efeitos reais na preservação do meio-ambiente e no bem-estar das pessoas. O discurso do apocalypse afasta as pessoas porque as faz sentir impotentes.

A discussão sobre as alterações climáticas induzidas pela ação do Homem pode e deve continuar a ser feita pela ciência. As suas conclusões devem servir de base para a implementação de políticas e este deve ser um tema cada vez mais familiar e percetível para a sociedade. Porém, a ciência é investigação, discussão, construção e também argumentação e contradição. Enquanto a transição para uma economia verde devia ser inquestionável.